sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Selénia (cap. 2)

Capítulo 2
Mudança de Planos
Assim que entro no café, fico surpreendida com o seu estilo Irlandês. Parece que me enfiei numa máquina do tempo e parei na idade média. Mas é um ambiente agradável. Lily é que não parece estar a gostar muito do sitio. Mas neste momento eu quero é pensar na minha amiga e no novo membro da família dela.
- Vou só pedir as bebidas, volto já. - Anuncia Sam, afastando-se em direcção ao balcão.
- Ergh, que mal fiz eu para merecer estar num sitio como estes? - Pragueja Lily.
- Vais obrigar-me a responder a isso? - Comento, sarcasticamente. Dois pontos para a Amanda, muhaha.
Lily olha-me com desprezo e frieza e senta-se bruscamente. Eu ainda ando uns passos mais, antes de voltar atrás e sentar-me ao lado dela. Eu estava prestes a repreendê-la quando o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.
- Provavelmente é o tipo das blusas, que quer que lhe paguemos... - Comenta Lily, olhando para o meu aparelho.
Eu encolho os ombros e dirijo-me para o exterior. Ao atender o telefone, pergunto:
- Estou sim? Telemóvel de Anabela Pearl, quem fala?
- Anabela... Olá...
A voz do outro lado da linha é-me inconfundível, com o seu sotaque italiano glamoroso. Mas para mim, é como levar um soco no estômago, pois eu já não ouvia aquela voz há mais de seis anos. O nome do homem do outro lado da linha? Vicenzzo Pearl. O meu pai biológico. O primeiro marido da minha mãe.
- Pa...pai?
Cara, ainda bem que consigo falar contigo... Soube o que aconteceu à tua mãe... Como estás?
- Desapontada por não teres aparecido quando ela mais precisou de ti. - Respondo com acidez. - E espero ver-te no funeral.
- Sicuro. Não faltarei. Vejo-te em breve. Arriverdeci.
- Arriverdeci.
Encosto-me ao vidro da montra do café, mas não tenho forças para voltar a entrar. Decido andar sem rumo por Nova York. Demoro cerca de ora e meia até parar num banco de jardim do Central Park. Fico a ver os pássaros seguirem a sua vida, sem darem importância aos humanos que os observam  cá em baixo. O Sol continuava quieto no seu lugar, aparentando mover-se devido ao movimento da Terra. E a minha mãe estava morta. Ouvi um som mecânico leve.
- Uma das minhas melhores fotos... - Anuncia um homem, com cerca de vinte anos, que está ao lado do meu banco, em pé, com uma máquina na mão.
A principio, fiquei surpreendida, mas agora, estou mais calma.
- Não é um dos meus melhores dias para tirar fotos. - Replico, secamente.
Ele ergue uma sobrancelha interrogativamente, mas acena com uma mão, como se estivesse a afastar uma pergunta ou uma dúvida.
- Uma bela mulher como a senhora nunca deveria ter de passar por dias maus. - Diz ele, sentando-se ao meu lado.
- Sou humana, apesar de tudo. - Respondo.
- Difícil de acreditar nisso. -  Reforça ele, mostrando-me uma foto de mim a contemplar o céu.
- Por acaso até está uma boa fotografia. - Admito, sorrindo ligeiramente.
- Ah, um sorriso. O dia está a melhorar? - Comenta ele. - Já agora, o meu nome é Olliver Summers, mas trata-me por Oli.
- Amanda Pearl.
Ele olha para mim com curiosidade.
- O teu nome não me é estranho...
- Sou a filha da... Sou a directora da revista Selénia...
- Ah, a minha irmã lia essa revista. - Informa ele.
- Lia? - Interrogo.
- Faleceu há dois anos de cancro. - Ele não parecia muito triste.
Fico surpreendida como afinal aquele estranho talvez soubesse pelo que eu estava a passar. Mas opto por lhe perguntar primeiro sobre a história dele, antes de contar a minha.
- Não há muito para dizer. - Hesita ele. - Ela era três anos mais velha que eu. Faleceu de cancro. Mas a vida continua, e ela está num sítio melhor.
- Ah, no céu, queres tu dizer? - Riu-me, sarcasticamente. O sarcasmo tornou-se parte da minha personalidade. - Deixei de acreditar que havia um ser bondoso lá em cima desde que o meu pai se divorciou da minha mãe, quando eu tinha cinco anos. Há vinte anos que não acredito em Deus.
- Bem, talvez devesses acreditar. Dá alguma razão a coisas que, de outra maneira nos pareceriam estupidamente fúteis e sem utilidade absolutamente nenhuma.
- Para quem trabalha com imagens, usas bem as palavras. - Comento, surpreendida.
- Obrigado. Vem comigo, há algo que te quero mostrar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Selénia (Cap. 1)

Capítulo 1
Primeiro Dia
O despertador está a tocar, mas eu não quero sair da cama. O dia chegou ontem. Vinte e quatro horas mais cedo do que o previsto. Assim que me lembro, as lágrimas enchem-me os olhos, vertendo pela minha face. O meu coração sente um aperto, uma dor, uma mágoa. Perdi a minha mentora, a minha melhor amiga, a minha mãe.
Argh, treta de aparelho irritante. Dou-lhe uma pancada furiosa, sem vontade de me vestir e ir para a Selénia. Amanda! - Diria a minha mãe neste momento - Sabes quantas raparigas sonham em ter este lugar numa edição de moda com tanto prestígio como esta?!
Pois... Muitas, imagino. Mas duvido que elas aceitassem trocar isso pela vida das próprias mães. Karen sempre fora um boa mulher para mim. Apesar de me ensinar a ser arrogante com três tipos de pessoas: Os homens, os empregados da revista Be@uty e comigo mesma. Neste momento, só me apetece gritar bem alto, para ver se ela me consegue ouvir:
- Porque é que me abandonaste agora?!
Mm... Acho que acabei de acordar o vizinho da moradia do lado com o berro que acabei de soltar. Não vale a pena choramingar pelos cantos. A revista precisa de mim. Eu sou uma mulher forte, que aprendeu com a mulher mais forte do mundo. Eu consigo.. Já estou como o Obama: Yes, we can (1). Vamos lá.
Ora bem... Vestido preto curto, um casaco cinzento de algodão, botas altas também pretas e mala cinzenta, do mesmo tom que o casaco. Perfeito. Como vou levar o cabelo? Bem, vou levá-lo solto, assim esconde-me melhor a cara cansada. E não me posso esquecer dos óculos de sol. Isto de estar de luto não é para mim... Mas devo demasiado à minha mãe para não lhe prestar uma homenagem.
Não demorei mais de meia hora a chegar aos escritórios da revista. Stephen, um homenzinho baixo, de cabelos curtos pretos e olhos cor de avelã dirige-se a mim com passo apressado. Ele está encarregado das roupas dos manequins. Sempre ajudou a minha mãe. Acho que ele era um bom amigo dela, e o único homem que ela respeitava, para além dos ex-maridos. Ele é o único homem que eu respeito.
- Olá, Amanda... Não vale a pena perguntar como te sentes. - Comenta ele, acertadamente. - Precisas de te distrair desta tragédia.
Ele acena-me rapidamente com a mão e eu sigo-o sem hesitar. Distrair parece-me uma palavra bastante sedutora neste momento. Ele já estava a preparar as roupas para Matthew e Yanessa, o casal de manequins principais da revista. Stephen pede-me a opinião sobre as cores. Eu olho para ele de lado.
- Cores? - Digo secamente. - Neste momento só vejo preto à minha frente.
Ele olha para o meu vestido e suspira. Aponta para a entrada do meu escritório e eu reviro os olhos, dirigindo-me para lá. Talvez consiga encontrar uma melhor distracção nos papeis.
Dou um salto ao aperceber-me que alguém se move dentro da divisão. Era Lily. Para além de minha melhor amiga, era a editora-chefe da revista. E portanto, a única mulher para além de mim e da minha mãe que já alguma vez entrou naquele escritório, desde que Karen subira ao poder.
- Da próxima vez avisa que aqui estás! - Exclamo, fazendo-a saltar.
- Merda! - Grita, deixando cair os papeis que tinha na mão. - Tu é que não devias ser tão bruta, querida!
- Hey, pelo menos não disse nenhum palavrão... - Comento, divertida.
- Desculpa... Como estás? - Pergunta, preocupada.
- Mal, óbvio... Falaste com a Sam? - Interrogo, tentando desviar o assunto.
- Sim... Ela disse que estava a caminho, há uns dez minutos atrás, deve estar quase a chegar. - Informa Lily, olhando para o seu relógio de pulso prateado, que condizia com a sua saia e a sua camisola de lã. - A Sam disse que tinha uma notícia boa, que era capaz de nos animar... Pergunto-me se ela se vai divorciar do Casey...
- Lily! - Rosno, contendo o riso. - Não percebo qual o teu problema com a relação deles...
- A aliança, minha querida, é esse o meu problema com a relação deles. Nenhum amor é eterno.
Bom, nisso tenho de concordar com ela. Os homens nunca amam uma mulher para sempre. Pelo menos não uma mulher como eu ou Lily. E, ás vezes, tenho dúvidas que um homem consiga amar para sempre até mesmo uma mulher sentimental e apaixonada como Sam. Falado no Diabo, ela está agora a entrar pelo escritório a dentro. É a primeira vez que ela chega tao longe depois de entrar no edifício da revista.
- Ainda bem que já chegas-te, Amanda, tenho óptimas notícias. - Diz ela, sorridente.
- Vais-te divorciar do Casey? - Insiste Lily.
- Não! pelo contrário? - Replica Sam.
- Hun? Vais casar-te outra vez com o tipo? - Pergunta a ruiva.
- Não, tonta, adivinha...
- Não estou mesmo a ver o que possa sser. - Comento.
- Eu vou ter um bebé!
Oiço de novo as folhas cair no chão. Se eu tivesse folhas na mão, também as deixaria cair. Limito-me a afundar-me na cadeira de escritório.
- Como é que é?! - Gagueja Lily.
- Estou grávida. - Anuncia Sam.
- Como?! - Interroga Lily.
- Queres que te faça um desenho, parva? - Sibila Sam, pegando numa das folhas que estava no chão. - Já ouviste falar na história da abelha e da flor? Para quem só quer os homens como brinquedos sexuais, estás um bocado fora do assunto...
Não consigo conter mais o riso. Estou, na verdae, contente com a minha amiga. Lily começa já a pensar no tamanho da barriga e nas consequências que a gravidez tem no corpo da mulher. Mas Sam nunca se preocupou com isso. E eu admiro-a por isso. Sugiro que festejemos, dando-me uma hipótese de esquecer a mágoa que sentia com um bom par de shots. Elas aceitam, mas Lily tenta demover Sam de levar a gravidez até ao fim. Proíbo-a de falar mais sobre o assunto depois de ter ouvido a palavra aborto escapar-lhe dos lábios. Sam já não está a gostar muito da conversa. Ainda me pergunto como é que ela consegue aguentar com a personalidade de Lily, que é tão oposta à sua. Uma bomba relógio, é o que a relação entre aquelas duas parece. E está cada vez mais perto de explodir...

(1)"Slogan" da campanha eleitoral de Barack Obama: Yes, we can! (Sim, podemos!)


Selénia (Personagens e Índice)

Karen Pearl - Mãe de Amanda. Faleceu de cancro aos cinquenta e três anos.


Vicenzzo Pearl - Descendente de mãe italiana e pai britânico, vive em Itália, com a sua segunda mulher. É o pai de Amanda.

Amanda Pearl - Jovem de vinte e cinco anos, cabelos castanhos com madeixas loiras e olhos azuis que herdou o cargo de directora da revista Selénia.

Samantha "Sam" Gordon - É uma das melhores amigas de Anabela. Tem os cabelos encaracolados castanhos e os olhos também castanhos. Muito sentimentalista e é como que a consciência de Amanda.  É casada com o empresário Casey Gordon.

Lily Sun - É a outra melhor amiga e Amanda. É a mais parecida com a protagonista em termos psicológicos, mas acaba por se mostrar mais maquiavélica do que as pessoas pensavam. Tem os cabelos ruivos lisos e olhos azuis.

Olliver "Oli" Summers - Fotógrafo que arranja emprego na revista Selénia. Tem os olhos verdes e os cabelos castanhos. É um amante da natureza e das coisas belas.

Stephen Stone - É o estilista da revista, encarregue de vestir as manequins. É uma ajuda preciosa para Amanda. tem os cabelos pretos e os olhos cor de avelã.

Matthew Windstone - É o modelo masculino da revista. Aparece na maioria das edições.

Yanessa Gold - Filha de pais soviéticos, é a imagem de marca da revista. É a manequim principal e é bastante teimosa e extrovertida.

Robin Sage - É a directora da revista Be@uty, a revista rival da edição Selénia. Robin é uma mulher egocêntrica, ambiciosa e poderosa, que quer fazer tudo o que estiver ao seu alcance para deitar abaixo a revista Selénia. 

Índice
Prólogo (15/Nov/2010)
Capítulo 1 (16/Nov/2010)
Capítulo 2 (19/Nov/2010)
Capítulo 3 (Publicado Brevemente)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Selénia (Prólogo)

Prólogo
Estão a ver a mulher de cabelos brancos, pele enrugada, nos seus cinquenta aos, deitada na cama de hospital a morrer de cancro? Pois. Não sou eu. Essa é a minha mãe, Karen Pearl. Sim, a directora da revista Selénia. Neste momento estou em choque, à medida que saio do quarto do hospital. Acabei de receber as duas notícias mais esmagadoras da minha vida. Primeiro, a minha mãe vai morrer daqui a dois dias. Segundo, quando isso acontecer, eu serei a nova directora da revista. Yep, Amanda Pearl, a rapariga de vinte e cinco anos, olhos azuis-marinho e cabelos castanhos com madeixas loiras vai ser a nova directora da revista de moda Selénia. É provavelmente o sonho de qualquer rapariga do mundo, se não mesmo de qualquer pessoa do sexo feminino.
Por falar em sexo... O oncologista da minha mãe tem só mais um ano que eu... Talvez consiga comemorar a parte boa desta notícia no consultório dele... Oh, olha só para a aliança no dedo dele. Casado? E depois? Com certeza que não se importa de se divertir um pouco... Oh, maldição, ele está a olhar para mim, deve.me ter visto sorrir. Ele está a sorri de volta. Até é um bom sinal... Amanda, vais ter festa hoje à noite...
Ah, onde é que eu ia, sim, a Selénia. Agora a minha vida vai ser mais atarefada. Vai ser tão enfadonho, trabalhar com roupa todos os dias, lado a lado com os melhores estilistas do mundo... Oh, deuses, quem é que estou a tentar enganar!? Isto é o máximo!! Só gostava que a minha mão não tivesse que morrer... Mas as minhas amigas Sam e Lily de certeza que me vão apoiar. Samantha Gordon é uma mulher sentimentalista, de cabelos pretos e olhos encaracolados. É a filha de um amigo de família. Casou-se cedo com o Casey Gordon. Só falei com ele duas vezes, apesar de ser o marido da minha melhor amiga. E depois há a Lily, fria, calculista e deixa-se facilmente levar pelos prazeres mundanos. Tem os olhos azuis e o cabelo ruivo. Ela é a encarnação do ditado: As ruivas têm um temperamento de fogo. Mas ela não ama com facilidade. Conheci-a quando ela começou a trabalhar para a minha mãe, como uma das escritoras, e foi subindo até ser a directora de edição. Uma grande ajuda, para dizer a verdade...
E lá está de novo o telefone a tocar. É o quinto marido da minha mãe. Ele quer saber como ela está. A morrer. Agora as lágrimas começam a cair-me pelos olhos. Acho que o bom da situação não consegue esconder o facto de que eu vou perder, dentro de dois dias, a mulher que me ensinou durante toda a minha vida a ser bem sucedida. 

Selénia [Nova História]

Vou começar a escrever a nova história ainda hoje. Isto é para compensar o fim-de-semana sem ter vindo ao blog. Mas pronto. Espero que gostem.

Stop You Crying

E chega, finalmente, ao fim a minha primeira "longa metragem" aqui do blog. O conto Stop Your Crying acabou hoje. Provavelmente escreverei uma sequela, mas por enquanto, vão ter de se despedir, temporariamente, do Tom e do Jonathan.

Stop Your Crying (Epílogo)

Epílogo
O rapaz de cabelos loiros olhou para a porta da casa de banho. Apenas envergava uma toalha branca enrolada à cintura. Da outra divisão apareceu um jovem da mesma idade, com os cabelos pretos.
- Ficas sexy de toalha, Jon. - Comentou o loiro.
- E tu não ficas nada atrás, Tom. - Respondeu o de cabelos pretos.
Sorriram um para o outro e beijaram-se ternamente, sentando-se na cama.
- Que estás a pensar fazer hoje à tarde? - Perguntou Jonathan.
- Não sei... talvez relembrar os melhores momentos da minha vida que acabaram de acontecer... - Respondeu Tom, sorrindo. -  Mas podíamos ir dar uma volta por aí, ir lanchar ao café...
- Isso era óptimo. - Concordou ele.- Tanta actividade deu-me fome.
Um telefone soou no quarto, alertando ambos os jovens, que procuraram pelo aparelho.
- É o teu. - Anunciou Jonathan, passando o objecto ao namorado.
- E um número não identificado.. - murmurou, atendendo. - Estou sim, quem fala?
- Tom...? - Hesitou uma voz, do outro lado da linha.
Os olhos de Tom abriram-se de espanto e o seu queixo caiu, enquanto se virava para Jonathan.
- Da... Danny?! - Exclamou ele.
- Sim! Ainda te lembras de mim, maninho. Como estás? Preciso de falar contigo...Pessoalmente.
Jonathan ergueu uma sobrancelha, perguntando-se se Tom estaria mesmo a falar com o irmão mais velho, desaparecido havia anos antes.