Capítulo 2
Mudança de Planos
Assim que entro no café, fico surpreendida com o seu estilo Irlandês. Parece que me enfiei numa máquina do tempo e parei na idade média. Mas é um ambiente agradável. Lily é que não parece estar a gostar muito do sitio. Mas neste momento eu quero é pensar na minha amiga e no novo membro da família dela.
- Vou só pedir as bebidas, volto já. - Anuncia Sam, afastando-se em direcção ao balcão.
- Ergh, que mal fiz eu para merecer estar num sitio como estes? - Pragueja Lily.
- Vais obrigar-me a responder a isso? - Comento, sarcasticamente. Dois pontos para a Amanda, muhaha.
Lily olha-me com desprezo e frieza e senta-se bruscamente. Eu ainda ando uns passos mais, antes de voltar atrás e sentar-me ao lado dela. Eu estava prestes a repreendê-la quando o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.
- Provavelmente é o tipo das blusas, que quer que lhe paguemos... - Comenta Lily, olhando para o meu aparelho.
Eu encolho os ombros e dirijo-me para o exterior. Ao atender o telefone, pergunto:
- Estou sim? Telemóvel de Anabela Pearl, quem fala?
- Anabela... Olá...
A voz do outro lado da linha é-me inconfundível, com o seu sotaque italiano glamoroso. Mas para mim, é como levar um soco no estômago, pois eu já não ouvia aquela voz há mais de seis anos. O nome do homem do outro lado da linha? Vicenzzo Pearl. O meu pai biológico. O primeiro marido da minha mãe.
- Pa...pai?
- Cara, ainda bem que consigo falar contigo... Soube o que aconteceu à tua mãe... Como estás?
- Desapontada por não teres aparecido quando ela mais precisou de ti. - Respondo com acidez. - E espero ver-te no funeral.
- Sicuro. Não faltarei. Vejo-te em breve. Arriverdeci.
- Arriverdeci.
Encosto-me ao vidro da montra do café, mas não tenho forças para voltar a entrar. Decido andar sem rumo por Nova York. Demoro cerca de ora e meia até parar num banco de jardim do Central Park. Fico a ver os pássaros seguirem a sua vida, sem darem importância aos humanos que os observam cá em baixo. O Sol continuava quieto no seu lugar, aparentando mover-se devido ao movimento da Terra. E a minha mãe estava morta. Ouvi um som mecânico leve.
- Uma das minhas melhores fotos... - Anuncia um homem, com cerca de vinte anos, que está ao lado do meu banco, em pé, com uma máquina na mão.
A principio, fiquei surpreendida, mas agora, estou mais calma.
- Não é um dos meus melhores dias para tirar fotos. - Replico, secamente.
Ele ergue uma sobrancelha interrogativamente, mas acena com uma mão, como se estivesse a afastar uma pergunta ou uma dúvida.
- Uma bela mulher como a senhora nunca deveria ter de passar por dias maus. - Diz ele, sentando-se ao meu lado.
- Sou humana, apesar de tudo. - Respondo.
- Difícil de acreditar nisso. - Reforça ele, mostrando-me uma foto de mim a contemplar o céu.
- Por acaso até está uma boa fotografia. - Admito, sorrindo ligeiramente.
- Ah, um sorriso. O dia está a melhorar? - Comenta ele. - Já agora, o meu nome é Olliver Summers, mas trata-me por Oli.
- Amanda Pearl.
Ele olha para mim com curiosidade.
- O teu nome não me é estranho...
- Sou a filha da... Sou a directora da revista Selénia...
- Ah, a minha irmã lia essa revista. - Informa ele.
- Lia? - Interrogo.
- Faleceu há dois anos de cancro. - Ele não parecia muito triste.
Fico surpreendida como afinal aquele estranho talvez soubesse pelo que eu estava a passar. Mas opto por lhe perguntar primeiro sobre a história dele, antes de contar a minha.- Não há muito para dizer. - Hesita ele. - Ela era três anos mais velha que eu. Faleceu de cancro. Mas a vida continua, e ela está num sítio melhor.
- Ah, no céu, queres tu dizer? - Riu-me, sarcasticamente. O sarcasmo tornou-se parte da minha personalidade. - Deixei de acreditar que havia um ser bondoso lá em cima desde que o meu pai se divorciou da minha mãe, quando eu tinha cinco anos. Há vinte anos que não acredito em Deus.
- Bem, talvez devesses acreditar. Dá alguma razão a coisas que, de outra maneira nos pareceriam estupidamente fúteis e sem utilidade absolutamente nenhuma.
- Para quem trabalha com imagens, usas bem as palavras. - Comento, surpreendida.
- Obrigado. Vem comigo, há algo que te quero mostrar.
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